Continuo procurando imagens. Sou um colecionador
de imagens apagadas, de imagens deterioradas. Desde
que fui desaparecendo, partes de mim se iam de rajadas
de vento. De sonho em sonho uma pequena lembrança
se espalhava como álcool numa fotografia. Nunca
alcanço vê-la inteira e com isso me deleito. Parecem
os tijolos maciços visto através de reboco gasto da fachada
de uma casa; mas não quero ir muito longe porque aqui
onde estou, parado, desaparecendo, tua imagem pode
me encontrar. Tu, que te fragmentas em pequenos enigmas,
és uma imagem valiosa... Enquanto vou me desfazendo
em vento, de vento me faço. O espaço que ocupo é cada
vez menor. Ainda desocupo todo o espaço até suprimir,
e sem o espaço estarei dentro de ti, de teus pequenos
fragmentos, como uma imagem apagada. E antes de
deixar de ser por completo, meu último pensamento:
daí nunca mais sair.
Na moviola!
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